Sebenta do Superior
domingo, maio 30, 2004
 
Jornalismo universitário sem fronteiras

A Universidade de Columbia, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos da América, ministra uma das mais reconhecidas licenciaturas em Jornalismo ao nível mundial. Uma licenciatura que produz para o exterior, não se limitando a instruir para o restrito interior do mundo unversitário. Publicações, estudos, sondagens, análises, sítios na internet. Como o conceituado e bastante elogiado "Columbia Journalism Review", um sítio com uma qualidade impressionante, parcialmente mantido pelos próprios alunos da licenciatura. Para explorar com atenção, em http://www.cjr.org/...
sábado, maio 29, 2004
 
Processo de Bolonha perto da meta

Hoje estava a pensar sobre a Declaração de Bolonha e ocorreu-me que ainda deve haver muita gente que pense tratar-se de algum tratado gastronómiuco europeu. Por isso deixo-vos aqui alguns links para o documento em si. Um é o texto original assinado pelos ministros da Educação Europeus em 1999 e outro é o documento do Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior, de 2001. Podem também dar uma espreitadela ao documento do Conselho Nacional de Reitores das Universidades Portuguesas sobre Bolonha.
 
Um pouco de serviço público

Informa-te sobre os cursos existentes, analisando as listas organizadas por diferentes critérios, em http://www.acessoensinosuperior.pt/. Um sítio com bastante informação para qualquer candidato ao ensino superior. Se já escolheste os cursos, verifica se reúnes as condições exigidas e calcula as tuas notas, numa espécie de "simulador de candidatura". Sítio de passagem obrigatória para qualquer candidato.
quarta-feira, maio 26, 2004
 
Balanço da Assembleia Magna de Coimbra

Chegada ao final mais uma Assembleia Magna é altura de fazer um balanço do ocorrido, para desde já lamentar a cena de pugilato ocorrida nesta AM. Uma cena de poucos minutos que se iniciou na cantina dos Grelhados vindo a terminar já nos jardins da AAC. Adiante, as moções que importa referir são a moção de invasão do Senado Universitário quando se proceder a votação da propina máxima para o próximo ano lectivo, esperando-se assim que se consiga protelar o mais possível esta tomada de decisão. Se noutros episódios semelhantes as deliberações de magna saíram goradas, que este seja então um momento de viragem.
Numa magna com poucos estundantes presentes, importa também referir que a moção da DG/AAC que pedia ao Governo yum esclarecimento sobre o segundo ciclo de formação proposto pela Declaração de Bolonha foi igualmente aprovada. Outras moções aprovadas foram as que apresentavas como futuras acções de contestação a realização de um Congresso do Ensino Superior e de um plano de sensibilização dos estudantes para o próximo ano lectivo.
A moção que pedia um voto de repúdio ao projecto de recuperação da Alta de Coimbra, da autoria da autarquia conimbricense também foi aprovada

terça-feira, maio 25, 2004
 
Assembleia Magna realiza-se hoje

Ora aí está. Hoje é dia de Assembleia Magna, na cantina dos Grelhados, às 21h30. Os principais pontos de discussão deverão passar pela decisão em relação ao que se vai fazer para impedir ou ptrotestar contra a estipulação do valor das propinas para o póximo ano lectivo.
Habitualmente, as Assembleisa Magnas realizadas durantes as épocas de exames não conseguem mobilizar muitos estudantes, mas vamos ver se daqui a talvez duas horas a tendência é contrariada. Não faltem. Até já.
quinta-feira, maio 20, 2004
 
Lei de Bases da Educação não foi consensual

A Lei de Bases da Educação foi hoje aprovada na Assembliea da República, com os protestos da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC)e da Federação nacional de Professores. Miguel Duarte, presidente da DG/AAC criticou a actuação da maioria aos jornalistas presentes e afirmou que a lei "consagra o fim do ensino supeior público". O presidente da academia de Coimbra considerou também que o Governo deveria ter pugnado por um consenso em torno do diploma.
Uma das principais alterações trazidas pela nova Lei de Bases da Educação é o facto das universidades portuguesas passarem a ter autonomia no que respeita à escolha dos candidatos, ficando até possiblitadas de criarem as suas próprias provas de acesso. As universidades podem também escolher qual o peso a atribuir às provas específicas, à nota de frequência do 12º ano e aos pré-requisitos. O polémico numerus clausus tembém tem ods dias contados. Os estabelecimentos de ensino superior nacionais passam a fixar o númeor de vagas existentes para cada ano lectivo.
A recém-aprovada Lei de Bases da Educação também equipara as qualificações dadas pelos institutos politécnicos e pelas universidades. De fora ficou a possibilidade dos politécnicos darem o grau doutoramento, como pretendia a ministra da Ciência e Ensino Supeior, Maria da Graça Carvalho.
Segundo o Governo, esta nova lei pretende respeitar os princípios consagradas na Declaração de Bolonha, incentivando uma maior mobilidade de estudantes e docentes. A oposição em peso criticou a leitura feita pela coligação PSD/CDS-PP desta lei. As alterações previstas são para ser aplicadas num período não superior a três anos.
domingo, maio 16, 2004
 
Livro de Ana Drago retrata a luta contra as propinas

Tive hoje finalmente o primeiro contacto com o livro de Ana Drago sobre o movimento anti-propinas do início da década de 90. Não sendo um período que tenha vivido particularmente, pela primeira leitura parece-me ser um testemunho relevante para um período que até tem algumas parecenças com os dias de hoje, onde se regista de novo um aparecimento das duas principais juventudes partidárias nos lugares de chefia das várias academias nacionais. Se o encontrarem por aí, o livro chama-se "Agitar antes de Ousar" e foi editado pelas Edições Afrontamento.
sábado, maio 15, 2004
 
Uma opinião que se deve ter em conta

Santana Castilho, colunista do Público e professor do Ensino Superior aborda na sua crónica de hoje a investigação científica em Portugal e o novo modelo de financiamento do sistema preconizado Maria da Graça Carvalho. A ler, quer se seja docente investigador ou um mero aluno.

"Uma Graça e Uma Desgraça
Por SANTANA CASTILHO

A ministra da Ciência e do Ensino Superior estava preocupada com o estado da investigação científica em Portugal. Puxou pela cabeça e decidiu modificar o modelo de financiamento do sistema e apelar aos lusitanos cérebros, dispersos pelo mundo, para que regressem ao torrão pátrio. Quando a li, soltei uma gargalhada. O que propõe é uma graça. Vejamos porquê.

1. A excelência importa quando é consequência. A excelência não importa quando é excrescência. É desejável como resultado de um trabalho sério, coerente e continuadamente orientado para ela. Não tem relevância quando assume a forma de uma injecção artificial, num ambiente de penúria. Dito de outro modo, é ridículo falar dela num cenário de carências como o nosso. O que qualquer cientista digno desse nome quer são equipamentos modernos e garantia da sua substituição sempre que os avanços tecnológicos o justifiquem; financiamentos adequados e garantia da respectiva manutenção numa lógica de projecto, que não numa contingência política, anual, de Orçamento do Estado; estrutura de carreira digna e fomentadora de equipas estáveis; regras de gestão que o dispensem dos "processos" e o libertem para os "projectos". Isto não existe e isto é indispensável. Para aqui chegar não é preciso ser-se político de rasgo nem cientista. Basta simples bom senso.

2. Ao bom senso invocado na equação do problema é preciso somar a vontade política para a sua resolução. Infelizmente, tão-pouco existe. Quando a União Europeia se alarmou em Lisboa com a distância que a separava dos Estados Unidos da América, relativamente ao investimento em investigação, os países comprometeram-se a gastar em ciência e tecnologia, até 2010, três por cento do PIB. A média da Europa vai em 1,8 por cento. Mas nós nem chegamos a metade disso. Por enquanto, preferimos investir em dez estádios de futebol. É por isso que muitos portugueses excelentes servem o desenvolvimento doutros países, que lhes proporcionam condições de trabalho.

3. Tentar seduzir esses portugueses com complementos de financiamento, jogados em cima do quadro anterior, é obviamente ineficaz. Mas fazê-lo definindo que a qualidade de excelente advém de se terem publicado 100 artigos com 200 citações ou 50 com 100 citações e 10 doutoramentos, orientados e concluídos, é simplesmente risível.

É lamentável que a ministra confunda excelência com persistência. Os cientistas excelentes são os que conduzem investigações que produzem resultados de monta. Vivem para investigar e para encontrar respostas com impacto. Só escrevem quando têm coisas de peso para transmitir. Escrevem menos e são, obviamente, muito citados. Os outros escrevem mais mas averbam escasso número de citações por artigo. Escrevem e... "vão investigando".

Quem promover uma investigação sobre a evolução da temperatura do lagarto das Berlengas, ainda que criteriosa e cientificamente irrepreensível, quantas citações obterá por cada artigo que lhe descreva os resultados? E se se tratar de uma investigação longa, da responsabilidade de um "cientista" sénior, bem relacionado com os comités de apreciação dos artigos, persistente em escrever, não poderá publicar vários, a esse propósito, numa das tais revistas internacionais referenciadas pelo ISI (Institute for Scientific Information)?

Desconhece a senhora ministra que uma das queixas apresentadas pelos jovens cientistas diz respeito a muito corporativismo instalado, responsável pela eventual publicação de trabalhos em função dos autores, que não em função dos conteúdos que, muitas vezes, nem serão analisados? Na longa lista das publicações referenciadas pelo ISI, será indiferente o local onde se publica? Desconhece a senhora ministra que umas têm enorme prestígio e outras quase não têm leitores? É indiferente publicar ali ou aqui? Desconhece a senhora ministra que a comunidade científica avalia a relevância do investigador pelo número de citações por artigo, que não pelo número de artigos que ele consegue publicar? E quanto aos doutoramentos? Considera a senhora ministra que é melhor orientar dez na Universidade Eduardo Mondlane que um no MIT ou dois em Harvard? Que estranha aritmética esta, quando aplicada à ciência e aos cientistas!...

A senhora ministra da Ciência e do Ensino Superior é cientista e é professora universitária. Não desconhece certamente as respostas às perguntas que, só por retórica, lhe acabo de formular. Mas é agora, também, política. E porque aceitou tal condição, não pode ignorar os elementos básicos de um processo de tomada de decisão. Um qualquer diagrama de etapas deste processo, se tivesse sido usado, confrontá-la-ia, inexoravelmente, com a pergunta, condicionante total da medida que escolheu: que pode acontecer se fizer isto? Que cenários se podem apresentar? Esta etapa, se tivesse sido admitida, teria uma resposta: Nada. O que se pretende mudar permanecerá igual com a medida.

Os cientistas de gabarito não serão atraídos pela miragem de financiamentos complementares. Esses já têm financiamentos. E muitos não preencheriam, sequer, as condições da ministra. Os jovens cientistas, mesmo que de grande potencial, não preenchem as condições exigidas. Uns e outros, para se moverem, querem condições de trabalho. Bacalhau e fado não chegam.

Mas a ministra conseguiu, em minha análise, desrespeitar, intelectualmente, os investigadores sérios que resistem e teimam em fazer, no seu país, aquilo de que o país tanto carece. Foi pena!"

Santana Castilho, Professor do ensino superior, in jornal Público de 15 de Maio